HUÍLA: ADMINISTRADOR MUNICIPAL DA MATALA EXPULSA JORNALISTA DE REUNIÃO

O administrador do município da Matala, Miguel António Paiva Vicente, expulsou duma reunião o jornalista e director da rádio Huíla-Posto Matala Fernando Jamba, na manhã de terça-feira, 27 de Novembro.

Texto de Jesus Domingos | Repórter e activista dos Direitos Humanos

O jornalista foi expulso quando tentava reportar uma reunião dos enfermeiros eventuais do hospital da Matala que estavam reunidos numa das salas da administração municipal desde às 10 horas. O grupo de enfermeiros que reclama mais de cinco anos de salários em atraso tentava concertar acções perante o administrador.

O director da rádio do grupo RNA já se encontrava nas instalações da administração, a pedido do administrador Miguel Paiva Vicente, antes mesmo da reunião dos trabalhadores em regime precário e sem salários. Tendo conhecimento da presença dos profissionais descontentes, Fernando Jamba decidiu aproveitar a oportunidade para fazer a cobertura da reunião entre os trabalhadores e o administrador.

O jornalista contou: “Não consegui fazer nada, nem a própria reportagem porque aquilo me machucou muito. Não devia ser assim e assim não dá”.

Luís Lucas, membro do colectivo de “eventuais” da saúde presente na reunião, disse: “O administrador parou de falar e disse: ´Fernando Jamba, não tens autorização de estar aqui e podes sair´. E o jornalista saiu mesmo sem mostrar resistência”, mas visivelmente humilhado.

“Foi uma humilhação e senti-me muito mal porque fui eu que lhe convidei para vir até aqui. Ele [administrador] não resolve os nossos problemas, mas se pensa que vai nos calar está enganado. Vamos até as últimas consequências”, acrescentou Luís.

Fontes da administração municipal informaram a Rádio Angola que “o administrador já anda passado com o jornalista face aos debates e noticias que o mesmo tem levantado”. Outras fontes da rádio acusam Miguel Piva Vicente de ter proibido a emissora de cobrir as manifestações dos enfermeiros.

O director é apontado como estando a promover debates e entrevistas em que se critica a administração, ao contrário dos habituais elogios, de tal forma que, disseram as fontes junto do administrador, está em análise uma possível exoneração de Fernando Jamba.

Recordar que o mesmo administrador expulsou alguns jovens radialistas no ano transacto aquando das eleições gerais, entre os quais Wilson Belchior alegando ser membro de um partido da oposição.

Por sua vez, o munícipe António Domingos, formado em comunicação social, considera este acto um atentado à liberdade de imprensa no município. “Assim não há desenvolvimento, pois um governante não tem direito de coibir a imprensa de fazer uma reportagem seja ela contrária ou não. A rádio está em defesa do povo e está para reportar os problemas que afligem a sociedade informando e dar a conhecer”, disse.

Para o munícipe, Miguel Paiva mostrou que não pretende trabalhar e não gosta da imparcialidade e pluralidade jornalística ao expulsar o jornalista por querer fazer uma reportagem sobre a precariedade dos enfermeiros que estão há mais de cinco anos sem salário.

Outro munícipe que lamentou a postura do administrador é o activista local Miúdo Tchitala: “A rádio não pertence ao administrador e estamos numa nova era, aonde não podemos tapar o sol com a peneira e o que o administrador fez não gostei porque humilhou o jornalista perante os eventuais. Isto leva-me a perceber que o administrador não respeita os jornalistas que levam a tona notícias verdadeiras. O que ele fez mostra que está a esconder alguma coisa. Nós trabalhamos e deve haver transparência e a rádio contribui para isso, mas ele não quer a verdade. Se ele fazer alguma coisa contra o jornalista vamos sair à rua e pedir a sua demissão porque a hora de brincadeira acabou e o marimbondo da Matala deve também responder”.

Alberto Cambinda considera este acto como “uma ameaça à qualidade de informação”. Disse aguardar por uma reacção do governador provincial, “exonerando este senhor que não satisfaz os nossos interesses”.