FRAGATA DE MORAIS: “PEPETELA PARA MIM NÃO TEM NADA DE UM CLÁSSICO”

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O militante e membro do Comité Central do MPLA Fragata de Morais, deputado suplente à Assembleia Nacional depois de ter sido efectivo na legislatura anterior, disse, em entrevista ao jornal Vanguarda, edição 73, de 22 de Junho, que Pepetela não é um escritor clássico e ainda que José Eduardo Agualusa “gosta de aparecer”.

Texto de Rádio Angola

Autor de 18 obras literárias, entre poesias e antologias, Fragata de Morais expressou a sua opinião na sequência da pergunta sobre como encara a iniciativa do extinto GRECIMA publicar os denominados clássicos da literatura angolana. Em resposta, o escritor disse: “Discordo. Os clássicos angolanos para mim são os antigos, aquela geração impôs-se até antes da independência. Qual de nós, hoje, pode intitular-se como clássico? Pode dizer que há bons escritores, escritores regulares, maus escritores e escrevinhantes, mas clássicos, quem?”.

Em seguida, o jornalista questionou se Pepetela não pode ser considerado clássico, ao que respondeu, sem titubear, que “Pepetela, para mim, não tem nada de clássico. É um bom escritor, tem obras de que gosto, outras de que não gosto. Depois, não se esqueça, ele tem uma maquinaria de apoio de Portugal a nível das editoras”.

Como argumento, Fragata exemplifica com dois jogadores portugueses de épocas completamente distintas. “É a diferença entre Eusébio e Ronaldo. Para mim, o Ronaldo é o melhor jogador do mundo, mas o clássico é o Eusébio, porque não teve absolutamente nada em termos de apoios e publicidade. O Ronaldo tem, vende imagem, a Nike pede-lhe para fazer uns chutos por milhões de dólares. Não posso chamar ao Ronaldo clássico, posso chamá-lo melhor do mundo. Clássico é o Eusébio, é o Matateu. Isto para lhe dizer que, para mim, não há clássicos a partir de 1976”.

No pós-independência, Fragata de Morais aponta Luandino Vieira como uma possibilidade para escritor clássico, sem certeza, avançando que “ele soube usar o português como arma, tanto é que a Associação Portuguesa de Escritores foi obrigada a fechar pela PIDE quando o livro Luanda venceu um prémio. Foi uma afronta ao colonialismo português. Portanto, o livro Luanda, e outros livros de Luandino, foram a ‘Kalashnikov’ dele na luta de libertação nacional”.

Não deixou de criticar o escritor angolano José Eduardo Agualusa, dono de uma vastíssima e premiada literatura. Para o político, quando Agualusa disse que Agostinho Neto era um poeta medíocre o fez porque “gosta de ´aparecer´”, acrescentando: “Se eu quiser aparecer amanhã, é só dizer alguns disparates em relação a João Lourenço ou ao presidente Eduardo dos Santos”.

Entretanto, Fragata de Morais deixa claro que “Agualusa é um escritor incontestável”.

 

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