Familiares da mulher morta no bloco operatório da Maternidade Augusto Ngangula clamam por justiça
Os familiares da jovem Amélia Mendonça, 34 anos, falecida em Outubro de 2022, no Hospital Augusto Ngangula, em Luanda, por alegada negligência médica, clamam por justiça e acusam a direcção da maternidade de fugir à responsabilidade, por isso, esperam que os autores pela morte da parturiente não fiquem impunes.
Numa exposição enviada ao Club-K, os familiares relatam que, Amélia Mendonça Tomé, de 34 anos, deu entrada no Hospital Augusto Ngangula, por volta das 14h00 do dia 3 de Outubro de 2022, para uma cirurgia electiva, sugerida pela médica que a acompanhou durante todo o período de gestão (consulta pré-natal).
Segundo refere o esposo da malograda, Martins Bota, a paciente entrou saudável, sem nenhuma contracção, bem-disposta, descontraída, caminhando pelos seus próprios pés em todos os momentos, inclusive, transportando os seus pertences.
A cirurgia foi realizada na manhã do dia 4 de Outubro do ano passado, e por volta das 11h00, do mesmo dia, a família de Amélia Mendonça, por intermédio do seu esposo foi informada que a mesma já estava no bloco operatório e que devia voltar a solicitar informações às 15 horas.
No horário indicado, descreve, o Hospital Augusto Ngangula teria informado que a cirurgia já tinha sido feita, o bebé podia ser visitado no berçário, mas a paciente permanecia no bloco operatório, “porém, não deram nenhuma informação adicional sobre o estado da paciente”.
Martins Bota disse que a família voltou a solicitar informações às 20 horas do mesmo dia, mesmo tendo passado o dia todo no hospital sem informações adicionais sobre o estado da paciente que se encontrava no bloco operatório.
“Às 00:03 do dia 05.10.2022, a família foi comunicada pela equipa de supervisão (via telefone), que precisava deslocar-se com urgência para o hospital. A família assim procedeu. No hospital, a família deparou-se com uma série de situações inadmissíveis”, relatou.
Lamentou que, entre os actos praticados pela equipa médica em serviço, sem o consentimento da família foi a extracção do útero da paciente da família, cujo termo de consentimento, de acordo com o esposo, foi assinado pela família, já após a extracção do útero.
Constam igualmente as contradições nas informações supostamente prestadas “sobre a hora da cirurgia, sobre a retirada do útero, sobre as transfusões sanguíneas feitas, sobre o seu estado de vida”.
Os médicos levaram os familiares da paciente ao bloco operatório, quando a paciente ainda tinha a ferida da cirurgia aberta. Segundo a equipa de médicos, Amélia Mendonça faleceu às 6h00 do dia 5 de Outubro de 2022, situação que deixou inconformada os familiares.
Face às dúvidas, omissões e contradições que envolvem as circunstâncias da morte da paciente, foi remetida pela família ao Hospital Augusto Ngangula, no dia 18 de Outubro de 2022, a solicitação de um relatório médico detalhado sobre os procedimentos médicos e éticos a que foi sujeita a paciente.
O relatório foi entregue à família no mês seguinte, isto é, no dia 7 de Novembro de 2022, mas para os familiares, “em lugar de dissipar, aumentou ainda mais as dúvidas já existentes”.
A família de Amélia Mendonça Tomé recorreu aos serviços do escritório de advogados FBL que acompanha o processo. Por via deste, a família apresentou uma denúncia de violação dos deveres médicos e negligência médica à Inspecção Geral das Actividades Sanitárias e Farmacêuticas (IGASF), com conhecimento ao Ministério da Saúde (MINSA), à Ordem dos Médicos de Angola (OMA) e ao Hospital Augusto Ngangula (HAN).
Diante disso, a Inspecção Geral das Actividades Sanitárias e Farmacêuticas (IGASF) criou uma comissão para averiguar a referida denúncia.
Foram ouvidos os vários intervenientes do processo, com realce para a médica Maria do Rosário (foi à pessoa que manteve o contacto com a família quando foi esta chamada ao hospital, e também quem assinou o Certificado de Óbito), e, Martins Bota, o esposo da paciente, que foi ouvido no dia 19 de Janeiro de 2024.
Porque as divergências continuam a acareação foi ordenada e informada as partes, com o objectivo de confrontar as declarações, entre Martins Bota e Maria do Rosário, foi então marcada para as 10h00, do dia 31 de Janeiro de 2024.
Postos no local marcado para a referida acareação – Inspecção Geral das Actividades Sanitárias e Farmacêuticas – a equipa de inspectores responsáveis pelo processo informou ao esposo e aos advogados que a acareação não seria feita naquele dia, ficava adiada sine die, e que apenas no dia anterior, 30 de Janeiro, a Direcção do Hospital Augusto Ngangula teria informado que a médica Maria do Rosário encontrava-se doente e em tratamento no exterior do país.
“Ou seja, em 5 dias a médica teria adoecido e saído do país para tratamento médico. Muito conveniente! Conhecendo o modo como funcionam as Instituições Públicas no nosso país, quando será remarcada? Fica claro a intenção de impossibilitar o encontro”, denunciam os familiares da malograda.
“Porque tantas contradições? Eu sou Amélia exijo justiça”, lê-se na exposição.