Director da Rádio Cuango exonerado por ter apoiado opositor do administrador municipal
O director da Rádio Cuango foi exonerado das suas funções na última semana pelo administrador municipal do Cuango, Gastão Kahata Júnior, por alegadamente ter apoiado o candidato opositor do actual primeiro secretário do MPLA do Cuango e administrador local, sem direito a pagamento dos seus salários.
Fonte: O Decreto
Segundo apurações dos militantes dos camaradas, Dinis Mário Bundo foi afastado do cargo após ter manifestado o apoio ao candidato derrotado na conferência municipal do Cuango, que de acordo com fontes deste portal, gozava de aceitação da maioria dos militantes do MPLA no Cuango.
Dinis Mario Bundo, jornalista de profissão e fundador da Revista ABC Angola, tinha sido nomeado no consulado do ex-administrador municipal do Cuango, Guilherme Kangu, como director do Gabinete de Comunicação Social, e na actual administração de Gastão Kahata Júnior Goge, indicado para exercer o cargo de director da Rádio Cuango, de acordo com o despacho nº 001-RH-2021.
Entretanto, após o partido MPLA ter convocado a conferência municipal, tendo como candidatos Gastão Kahata Júnior Goge, actual administrador municipal do Cuango, e o jovem Castro Manuel Cazanga, militante destacado do partido e membro do comité provincial do partido, que disputava ao cargo de 1º Secretário municipal do MPLA.
“O segundo candidato gozava de muita popularidade no seio do partido MPLA ao nível do município e em especialmente no secretariado comunal do Luremo e, nessa altura, os militantes é que tinham decisões para eleger quem devia assumir, ou seja, assegurar a cadeira de primeiro secretário municipal”, disse a fonte, “acrescentando que o segundo eixo que apoiava o Gastão Kahata, facto que começou a surgir divergências no seio dos delegados à conferência”.
Após a vitória do Gastão Kahata, de acordo com as denúncias, resolveu afastar todos militantes, quer como membros do comité municipal, assim como alguns funcionários do partido, que se encontravam apoiar o candidato Castro Manuel Cazanga, nos departamentos em que eram eleitos antigamente e as vagas foram preenchida pelos outros militantes, o que para muitos “o véu do partido MPLA está quase a cair nas ravinas de Cafunfo”.
Segundo vários militantes do partido MPLA no Luremo, a exoneração do director da Rádio Cuango, Dinis Bundom, tem haver com a questão de tribalismo, “porque o camarada Gastao Kahata veio com uma ideologia antidemocrática, ideologia essa que visa deixar o MPLA nua nessas eleições que se avizinham, desta feita, toda e qualquer exoneração do funcionário que presta serviços públicos na administração tem de ser por escrito e seguindo as normas padrão da administração, e isso se entende por perseguição étnica”, refere um dos militantes.
Contactado por este portal, Dinis Bundo, disse não ter dúvidas que a sua exoneração resultou do facto de ter apoiado a candidatura do opositor do actual administrador do Cuango.
“Foi ilegal de administrador Gastão Kahata ter-me exonerado sem ter produzido qualquer documento ou despacho e nem se quer ter colado o despacho na vitrina como tem sido sempre, e isto é inconstitucional”, lamentou.
Contou que foi exonerado “sem despacho e nem tinha sido contactado para me comunicar sobre a minha exoneração, nesse momento me sinto como director da Rádio e a exercer a minha profissão enquanto jornalista daquela instituição”, disse.
Dinis Bundo afirmou que “o mais gravoso, tomei conta que fui exonerado depois da minha esposa ter me solicitado que fossemos para fazermos pagamentos dos meus filhos que estudam num colégio, quando ela foi ao banco, não encontrou na conta, a depois de consultar o banco, fui informado que estava desactivado no sistema há três meses e até ao momento nunca foi remunerado”.
Esclareceu que “enquanto comunicólogo fui contactado pela coordenação da campanha do falecido Cazanga Castro Manuel, para ajudar na altura na sua candidatura, o que é normal dentro da democracia interna, tendo em conta a larga experiência de marketing político e outro candidato também contou com o apoio profissional, tal como vimos ao longo da sua campanha”.
“Hoje para subir de grau governativo, exige fazer graxa, lamentavelmente esta figura não sei ser. Tenho verticalidade e continuarei a ser, nem que para tal venha a sacrificar o pão dos filhos tal como o filme em actualidade”, lamentou Dinis Bundo.
Para população e membros da sociedade civil, “a administração não pode ser de uns e outros não, isto pode ser convertido em uma administração de ditadores”.
Alguns dos militantes do MPLA na comuna do Luremo defendem que sejam realizadas manifestações de rua contra o administrador, com vista a travar as exonerações de filhos natos.
“Deixamos claro que, qualquer partido pode erguer a sua bandeira na comuna de Luremo, porque nós não somos instrumentos do MPLA nem tão pouco de qualquer camarada, pelo que, exigimos que o senhor governador ponha de fora o seu familiar gastar Kahata, pois se está a exonerar os do Luremo vai com quais?”, questionam.
Reacção da administração municipal do Cuango:
“As informações constantes do texto são falsas e infundadas, porquanto, Dinis Mário Bundo, tinha sido indicado pelo Administrador Municipal do Cuango para recuperar e dirigir precariamente a Rádio Comunitária de Cafunfo, sendo que, para garantir a sua remuneração durante o tempo que esteve a prestar serviços foi nomeado Técnico de Informática do Gabinete do Administrador.
Por incumprimentos dos seus deveres de funcionário público e por conveniência de serviço foi exonerado.
Portanto, este facto não lhe dá o direito nenhum de exigir quaisquer remunerações ou reaver passivos.
Essas alegações estão eivadas de má fé.
De salientar que a rádio comunitária de Cafunfo não funciona há mais de dois anos, aguardando o pronunciamento do Conselho de Administração da RNA”.