Consultora americana BCG pagou milhões de dólares em subornos em Angola
A empresa de consultoria americana Boston Consulting Group (BCG) pagou milhões de dólares em subornos para conseguir contratos em Angola, mas aceitou agora devolver mais de 14 milhões de dólares em lucros obtidos em negócios com o Ministério da Economia e o Banco Nacional de Angola (BNA).
A conclusão é do Departamento de Justiça (DOJ, nas siglas em inglês) dos Estados Unidos tornada pública nesta quarta-feira, 28, em Washington, que revela que o esquema foi colocado em prática, entre 2011 e 2017, durante o consulado do falecido Presidente angolano José Eduardo dos Santos.
As autoridades angolanas contactadas pela Voz da América ainda não reagiram.
Apesar das provas robustas, segundo uma nota publicada pela consultora na sua página, também hoje, “o Departamento de Justiça dos EUA recusou-se a processar a BCG ao abrigo da Lei de Práticas de Corrupção no Estrangeiro por conduta relacionada com as atividades de determinados funcionários em Angola”.
O DOJ citou “a auto-revelação voluntária da BCG, a total cooperação, e melhorias de conformidade” e, em consequência, a consultora aceitou, num acordo com o Governo dos EUA, “desembolsar 14,4 milhões de dólares, que o DOJ calculou como lucros da BCG provenientes do trabalho em Angola”.
Transferências a partir de Portugal
No período em causa, a BCG enviou dinheiro, a partir do escritório em Lisboa, Portugal, para contas offshore controladas por intermediários ligados a responsáveis angolanos e membros do MPLA, partido no poder.
“Certos funcionários da BCG em Portugal tomaram medidas para ocultar a natureza do trabalho do agente para a BCG quando surgiram questões internas, incluindo a retroação de contratos e a falsificação do alegado produto de trabalho do agente”, afirma aquele departamento governamental americano, sublinhando que a consultora concordou em pagar a um agente com ligações às autoridades angolanas entre 20 por cento e 35 por cento do valor dos contratos que ganhou, encaminhando o dinheiro através de três entidades offshore diferentes.
Encerramento dos escritórios em Luanda
No total, a BCG ganhou 11 contratos com o Ministério da Economia e um com o Banco Nacional de Angola ao longo dos seis anos de trabalho em Luanda, o que lhe permitiu obter receitas de 22,5 milhões de dólares.
A empresa fechou o escritório que tinha em Luanda e sublinhou que “continuou a reforçar significativamente os seus procedimentos em conformidade com a legislação, controlos internos e formação”.
A empresa também manteve negócios com a Sonangol, nomeadamente durante a gestão de Isabel dos Santos, filha do então Presidente José Eduardo dos Santos.
A BCG é uma empresa americana de consultoria de gestão global fundada em 1963 e com sede em Boston, Massachusetts.
A Voz da América contactou os responsáveis da comunicação institucional da Presidência da República, do Banco Nacional de Angola e da Procuradoria-Geral da República, mas até agora não obtivemos qualquer resposta.
Fonte: VOA