Coisas e loisas 1 – Marcolino Moco

Compartilhe

Image:Luanda Post

Por Marcolino Moco

De tanta ausência, um amigo (não deve ser o único), aqui no FB, desconfiou que já me tinham calado. Respondi que não se cala um velho a que só faltam dois meses para completar 70 anos. Quando ainda aos quarenta anos já clamava no deserto. O legado está passado.
Falta aos mais jovens fazerem a sua parte. Não esperem por eleições que pensam que um dia vos vão resolver a situação, sem mais nem quê. Assim, o sistema actual reproduzirá, indefinidamente, o sistema actual.

Contaram-me que um pastor, em pleno culto, deu a sua contribuição aos “serviços secretos” para ameaçar a família de um jornalista. A ser verdade, é muito grave. Como foi muito grave o que ouvimos, há tempos, do líder do sindicato dos jornalistas angolanos, sobre telefonemas intimidatórios que recebe(u)… o que terá também acontecido a uma filha do dirigente de um outro sindicato; as escoriações de membros superiores e inferiores da esposa de um jornalista que abandonou, por isso, o país, por não poder saber onde se queixar. E fica tudo muito silencioso aqui dentro e lá fora. Entretanto, o Presidente de Angola acumula prémios em África, na Europa e pelo mundo fora, pela sua contribuição à “paz, serenidade e sossego da humanidade”.

Cabe a vocês, jovens, não esperarem por heróis já velhos como eu. Já tantos exemplos vos dei de rejeição da corrupção (mesmo com os meus pecados, que os tenho, por ser homem) para deixar de falar sobre o tempo e rios imensos de dinheiro que se perdem para destruir a oposição, desviar a direcção dos serviços secretos do Estado para objectivos completamente estranhos à sua missão sagrada de defesa do Estado. E parte deste tempo e dinheiro é mesmo gasto só para destruir o pouco que ficou de bom do longo consulado de JES. E chamam a isso “combate sem tréguas à corrupção” que entretanto continua viva e alegre. Algumas vezes só mudando de mãos, outras vezes continuando nas mesmas santas mãos. Até lá onde ela devia ser contida, como no TS, ela canta e dança, à plenos pulmões e em pleno dia.

Na sanha de quererem encabeçar a corrida a bens materiais passageiros, vejo muita gente, especialmente jovens, a pensar que, nesta confusão, serão suficientemente espertos para se colocarem na frente dessa dessa inutilmente cansativa maratona. É uma ilusão. A vossa vida continuará a piorar e isso vai abranger cada vez mais camadas da população, enquanto o poder estiver tão centralizado e concentrado nas mãos de um só titular, como está hoje. E a dos vossos filhos e netos será uma hecatombe, com uma repressão feroz, onde já não será necessário fingir que isso seja um país democrático e de direito, em África.

Como evitar a eternização deste sistema, jovens? Por via pacífica, se a luta dentro dos vossos partidos (incluo o MPLA) não ajuda, podem lá continuar. No entanto, dispam-se dos casacos partidários e, enquanto jornalistas, recusem todas orientações editoriais que não correspondam ao sentido ético-moral e jurídico-constitucional que está estatuído; como elementos do poder judicial, não contemporizem com a desmoralização a que estão a ser sujeitos; como elementos dos serviços secretos do Estado, elevem a vossa honra, recusando servir interesses de grupos que vão destruindo, aceleradamente, as instituições do Estado. E verão que todos enriquecerão honradamente, contribuindo para a construção de um país são, onde tudo chega para todos.

Leave a Reply