CAMPO DA MORTE: CASO N.º 19: O CRIME É TRANSMISSÍVEL? CALA BOCA
VÍTIMAS: Pedro Fernandes “KV”, 23 anos, natural de Luanda; Caramelo e mais um jovem não identificado
DATA: 4 de Fevereiro de 2017
LOCAL: Desconhecido
OCORRÊNCIA:
“Em Novembro passado, ouvimos dizer que o Pedro Fernandes assaltou uma senhora. A família repreendeu-o e ele fugiu de casa. Só o encontrámos morto no dia 4 de Fevereiro”, conta o tio de KV, Paulo Neves.
“O meu sobrinho apanhou oito tiros, incluindo na cabeça; o Caramelo levou três, incluindo um na cabeça; enquanto o desconhecido foi atingido com três tiros na cabeça.”
Conforme depoimentos de familiares e vizinhos, KV e seis amigos alegadamente assaltaram um grupo de vendedeiras na Rua Direita da Kianda, no Kikolo. As senhoras compravam mercadorias a grosso nos armazéns locais e revendiam-nos na fronteira do Luvo [na província do Zaire]. Nesse dia, levavam consigo 12 milhões de kwanzas numa bolsa.
Em Janeiro [dia não precisado], o SIC espancou de madrugada toda a família de KV. Os agentes acordaram as três irmãs e espancaram-nas no estado em que as encontraram no quarto, seminuas, para que denunciassem o paradeiro do irmão ou entregassem o dinheiro. Como ele não estava, levaram o tio para a Esquadra da Boa-Esperança, conta-nos Paulo Neves.
“Na esquadra, perguntei se o crime é transmissível, afirmei que estavam a violar os meus direitos e mandaram-me calar a boca”, revela.
Segundo investigações feitas no local, no dia anterior à execução de KV, este e Caramelo foram pernoitar no bairro da Sécil, em casa de um grupo de meliantes também procurados pela polícia. Os anfitriões acomodaram os hóspedes e não passaram a noite no local. Foi nessa residência que capturaram KV, Caramelo e outro amigo, de nome desconhecido.
Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais