CAMPO DA MORTE: CASO N.º 34: INJECÇÃO DE ÁGUA DE BATERIA?
VÍTIMAS: Hilário Caetano Muzumbi “Mala de Dinheiro”, 20 anos, natural do Kwanza-Norte; mais quatro indivíduos não identificados
DATA: 16 de Novembro de 2016
LOCAL: Esquadra da Ponte Partida, município de Viana
OCORRÊNCIA:
Nelson Silveira afirma que o sobrinho se encontrava em Luanda há quatro dias, com o propósito de levar a esposa para a sua terra natal, para onde se mudara quatro meses antes.
Saiu com um grupo de amigos, que faziam parte de um gangue com um nome bastante ofensivo e vulgar [omitido]. Um dos membros, conta o tio, esqueceu-se da mochila no táxi [candongueiro] onde circulavam. Na mochila guardava uma arma de fogo. O taxista entregou a mochila a agentes da Polícia Nacional, que aguardaram pelo proprietário. Pouco depois, por volta das 17h00, quando regressaram para recuperar a mochila, os cinco amigos foram detidos.
“O fim deles foi [assassinado] na Esquadra. Os outros ficaram [foram mortos] no terreno e foram deitados no dia seguinte em locais diferentes. O meu sobrinho e mais um foram deitados na zona do Morro da Areia, outros dois foram atirados juntos à Escola do Mobel (bairro Mulenvos de Cima), próximo das suas residências, e o quinto foi morto no dia seguinte”, conta Nelson Silveira.
“Tiraram os telefones dos rapazes e ligaram anonimamente a todos os familiares, informando-os da localização dos corpos.” Nelson Silveira explica que o irmão da mãe de Hilário Caetano, um alto oficial da Polícia Nacional destacado em Malanje [nome e cargo propositadamente omitidos] se deslocou a Luanda para apurar as circunstâncias e a causa da morte do sobrinho.
“O tio mandou fazer uma autópsia ao sobrinho, conversou directamente com os homens do hospital e soube então que o rapaz foi injectado com água de bateria”, revela Nelson Silveira.
O interlocutor não esconde que o sobrinho se havia refugiado no Kwanza-Norte porque estava a ser procurado pela Polícia Nacional e temia pela vida. Os seus amigos também passaram algum tempo no Kwanza-Norte, mas acabaram por regressar a Luanda. Hilário “Mala de Dinheiro” tinha marcado o regresso ao Kwanza-Norte para o dia em que foi enterrado.
Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais