CAMPO DA MORTE: CASO N.º 31: CAÇA AO MANINHO — PROCURADO PARA SER MORTO
VÍTIMA: Basílio Canjengo “Na Cela”, 20 anos
DATA: 16 de Dezembro de 2016
LOCAL: bairro Mulenvos de Cima, município de Viana
OCORRÊNCIA:
“O meu filho está a ser procurado pela DNIC [actual SIC] para ser assassinado”, denuncia Angelina Cahundo, mãe de Na Cela.
“No dia 16 de Dezembro, a DNIC [SIC] veio a minha casa. Veio um clarinho, tipo mulato, alto, que é quem está a acabar com os jovens aqui. Chamam-lhe de Van Damme. Tem uma cicatriz perto da boca, até à orelha esquerda. É assim forte”, conta.
Segundo a senhora, o Van Damme fez-se acompanhar de um colaborador conhecido por Jojó. “Este é que fica junto da polícia a indicar os jovens que devem ser abatidos”, acrescenta.
“Chegaram às 5h00. Bateram à porta e eu abri. Chamaram a minha filha e perguntaram pelo irmão, e ela disse-lhes que o Na Cela não estava em casa. Revistaram o quarto dele e não viram uma agulha.”
“O Van Damme olhou para o meu filho Gabriel, de 8 anos, e disse-lhe que, se o irmão estivesse em casa, seria o último dia dele. Passaram mais oito vezes, até ao dia 23 de Dezembro”, conta.
Para além dessas visitas, Van Damme e o seu colaborador passaram a rondar a bancada onde a mãe vende roupa em segunda mão e onde Na Cela muitas vezes a ajudava.
“O vizinho Simão Catequele é quem fez a lista dos jovens para serem abatidos. O filho dele chama-se Cinquentado. Eles recebem sempre os homens da DNIC [SIC], os assassinos e os polícias fardados na casa deles, onde bebem e combinam o trabalho”, denuncia Angelina Cahundo.
“Quando o senhor Catequele fez a lista com os filhos, estava um jovem presente que viu os nomes e avisou alguns dos amigos. Passadas duas horas, a polícia foi buscar dois dos que estavam na lista, o Jambito e o Simão [Caso n.º 36].”
Pelo que a mãe sabe, Na Cela esteve detido uma vez, no ano passado. “Vinha do serviço, biscate de pedreiro, bêbado, e levaram-no para a esquadra. Passou lá uma noite. A polícia cobrou-me 20 mil kwanzas e libertaram-no”, explica.
“O meu filho bebe muito e fuma liamba, mas não rouba. Sou eu quem o sustenta. Ele também é cabeleireiro e frequenta a igreja”, acrescenta.
Fonte: «O campo da morte – Relatório sobre execuções sumárias em Luanda, 2016/2017», Rafael Marques de Morais