CABINDA: MÉDICOS ESTÃO COM SALÁRIO DE ENFERMEIROS AUXILIARES
As unidades hospitalares de Cabinda registam, à semelhanças das do resto do país, uma falta gritante de medicamentos e materiais gastáveis, como luvas e seringas
Mais de 30 médicos em Cabinda auferem, há mais de cinco anos, salário correspondente à categoria de enfermeiro auxiliar, apesar de já terem dado entrada na Secretaria Provincial de Saúde de toda a documentação que comprova a conclusão da formação superior.
O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores de Saúde de Cabinda, Manuel Guilherme Macaia, assegurou ao Jornal de Angola que estes profissionais, que antes eram enfermeiros, exercem a actividade de médico nos hospitais, mas sem acerto da tabela salarial.
O Sindicato da Saúde reivindica, igualmente, a falta de subsídios de chefia para as pessoas com cargos nas unidades hospitalares de Cabinda.
“Muitos já foram nomeados e outros exonerados, mas nunca receberam tal subsídio, uma situação que deve ser resolvida, o mais rápido possível, pela direcção provincial recém nomeada”, avançou.
Em relação ao caderno reivindicativo, Manuel Guilherme Macaia disse que o sindicato achou por bem dar uma moratória de duas semanas e retomar as negociações, em Março, já com a nova direcção.
“Demos uma moratória porque já se aventava a entrada de uma nova direcção na Secretaria Provincial de Saúde. Não avançámos com outras negociações porque sabíamos que daria num fracasso”, admitiu, para quem em nada valeu as reivindicações apresentadas à anterior direcção.
O líder sindical lembra que, com o anterior Governo da Província de Cabinda, encabeçada por Aldina da Lomba, não havia um diálogo permanente, aberto e democrático.
Mais de 30 profissionais, que antes eram enfermeiros, exercem há anos a actividade de médico nos hospitais públicos, mas sem acerto da tabela salarial
Ao acreditar que com o actual governador Eugénio Laborinho vai ser diferente, Manuel Guilherme Macaia explica que este Governo é mais receptivo às reclamações dos profissionais do sector da Saúde.
O Sindicato dos Trabalhadores da Saúde inicia, no mês de Março, as negociações à volta do caderno reivindicativo. As reclamações dos trabalhadores estão ligadas ao baixo salário e à falta de subsídios de isolamento e de condições de trabalho.
O sindicato, criado em 1994, espera que as inquietações dos profissionais e dos hospitais sejam resolvidas para melhorar o atendimento, muito contestado pelos pacientes.
Manuel Guilherme Macaia explicou que as unidades hospitalares de Cabinda, tal como as do resto do país, registam uma falta gritante de medicamentos e materiais gastáveis, como luvas e seringas. Para o sindicalista, a insuficiência de medicamentos dificulta a realização plena e zelosa da actividade dos profissionais da Saúde.
O Sindicato dos Trabalhadores de Saúde de Cabinda insiste que sejam criadas condições de trabalho para os profissionais exercerem a sua actividade com perícia, evitando desumanização num lugar onde as pessoas procuram por saúde física e mental. A avaliação de desempenho, realizada todos os anos, não se tem repercutido na vida dos profissionais, por ausência do processo de actualização e acerto de categoria.
As localidades de Buco Zau, Belize e Cacongo estão desprovidas de habitações para acolher os profissionais de saúde, residentes em zonas longínquas. Por este motivo, Manuel Guilherme argumenta que em Cabinda, por ser das cidades mais caras de Angola, os profissionais gastam o salário nos transportes públicos. Uma viagem de carro para uma destas localidades custa entre 1.500 e 2.000 kwanzas.
“O Ministério da Saúde defende a humanização dos serviços e sabemos ser imperioso humanizar os serviços prestados. Se queremos, na realidade, que isto aconteça é fundamental que humanizemos, primeiro, os profissionais de saúde, porque são eles que lidam com os doentes”, defendeu o sindicalista.
Para acudir à situação dos profissionais da saúde, o sindicato pede que o Governo dê um subsídio de deslocação aos técnicos que trabalham distante das suas casas, em razão do salário ser insuficiente.
Manuel Macaia afirma que, em 22 dias de trabalho, os profissionais gastam em transporte público o dinheiro que serviria para as despesas familiares. Os trabalhadores administrativos têm salários inferiores a 20 mil kwanzas, informou o sindicalista, que defende uma escala especial para estes técnicos, que estão vinculados a esta tabela geral.
“Eles fazem parte da equipa e, como os médicos e enfermeiros, correm os mesmos riscos provocados pelo ambiente hospitalares”, sustenta.
Ainda sobre a falta de condições de trabalho, denunciou que o hospital regional, o sanatório e outros vivem problemas de falta de medicamentos.
“Temos mais para corrigir do que para melhorar”, admitiu, salientando que tem sido apanágio, depois da consulta, os familiares de doentes adquirirem remédio fora da unidade para salvaguardar a vida dos entes queridos.
Quanto à necessidade dos profissionais de saúde, Manuel Guilherme Macaia pediu ao Ministério da Saúde que tenha em atenção, na abertura de concursos públicos, a realidade de cada província e evite a distribuição por quotas.
Fonte: Jornal de Angola