ALAS EM CONFLITO NA UNIVERSIDADE JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS

Compartilhe

A secretaria da Faculdade de Direito da Universidade José Eduardo dos Santos (FD-UJES), localizada no Huambo e respondendo à 5.ª região académica do país, tem atribuído notas administrativamente tudo porque o decano, identificado como João Valeriano, se sente descontente com os professores tidos como fiéis ao antigo decano, Albino Sinjecumbi.

Texto de Rádio Angola

Durante a direcção de Albino Sinjecumbi, consta que o então decano posicionou-se sempre contra as listas de “candidatos” provenientes do comité provincial do MPLA para ingresso directo à faculdade de Direito. Esse é o ponto da discórdia.

Albino Sinjecumbi faleceu em 2013 e imediatamente foi substituído por João Valeriano. Desde a sua nomeação para decano da faculdade, os professores, que apoiaram a decisão do antigo decano e se mantiveram contra o sistema de ingresso partidário, passaram a lamentar pela forma como João Valeriano os tratava. Os estudantes dizem estarem perante um “campo de batalha de interesses pessoais”, e apontam várias consequências.

João Valeriano e Gabriel Cassuia, vice-decano para a área académia da mesma faculdade, contam com apoios de alguns professores. Sem quaisquer justificações, o decano tem rescindido os contratos de regência de cadeiras com os professores conotados com o anterior e falecido decano. As regências passaram para os professores apoiantes do decano que, dizem nossas fontes, muitos deles são membros do escritório de advogados «João Valeriano e Associados», localizado no bairro Académico.

“Há muita censura. Há alterações de notas, coisa que só se verificava em algumas instituições de ensino privado. Existe uma caça às bruxas e muita humilhação, como a imposição de monitores e assistentes incapazes e incongruentes que foram os piores alunos”, queixam-se alguns professores.

Como se não bastasse, acrescentam fontes da UJES, a secretaria tem dado notas administrativas a “estudantes sem qualquer aproveitamento escolar nas cadeiras dos docentes combatidos”. Esta acção tem sido catalogada como actos de “amiguismo e tráfico de influência”.

João Valeriano e o filho Euclides Valeriano | DR

Estudantes vão mais longe e apontam nomes de beneficiários desse “sistema fraudulento”. Constam da lista o filho do decano, sua secretária e também o seu chefe de gabinete, nomeadamente, Euclides Valeriano, Edmaura Kalei e Sebastião Jordão Prata Cafuanda. O rei do Bailundo também é estudante da UJES e, nessa qualidade, é apontado como um dos beneficiários das notas administrativas, bem como a companheira do actual director provincial da educação no Huambo, Ana Isolina Gregório.

“Essas pessoas receberam notas do sistema fraudulento. O senhor deputado do MPLA Armando Capunda também teve de passar com notas administrativas e só conseguiu depois da morte do decano Sinjecumbi. E também o espião do decano, o ex-secretário-geral da associação dos estudantes da FDUJES, Anastácio Sawape. Ele é um espião”, denunciaram estudantes, e disseram ainda: “A corrupção e o nepotismo tornaram-se práxis nesta instituição de ensino”.

Descontentes com esta situação, alguns professores têm optado pela rescisão total do vínculo contratual. Admitem que quem permanece na instituição sem pertencer à “ala do Valeriano” é porque consegue ainda aceitar as humilhações.

“Mas muitos destes foram colocados no período pós-laboral e sem regência das disciplinas. No ano passado saiu um professor sobre alegação de ordens superiores do partido, na pessoa do senhor deputado Capunda, a quem o decano atribuiu notas de secretaria. Em contrapartida lhe assegurou a continuidade como decano em nome do partido”, acusam.

Sem muita esperança, clamam ao ministério do Ensino Superior para “agir com celeridade” porque acreditam que sem a intervenção “podemos dizer adeus ao Direito no Huambo já que o reitor Cristóvão Simões é conivente”.

As acusações de nepotismo não são novas na UJES. Em Julho de 2017 o Club-K noticiou que o reitor Cristóvão Simões nomeou a sua sobrinha, psicóloga Lídia Nunes, para o cargo de vice decana da faculdade de Medicina para a área científica. Também denunciou-se a nomeação de um médico veterinário, Pedro António da Silva, para vice decano para a área académica da faculdade de Medicina.

“Qualquer um dos cargos deveria ser ocupado por indivíduos com formação em medicina humana, como tem sido norma em outras instituições congéneres”, contaram fontes do Club-K.

Numa altura em que se fala em alas «eduardistas» e «lourencistas» no MPLA, a universidade com o nome do ex-presidente da República encontra-se claramente dividida em alas, uma apoiando o actual decano que tem o reitor à defesa, e outra fiel ao antigo e falecido decano “respeitado por ter sido rigoroso nos assuntos académicos”.

Contactado telefonicamente, João Valeriano não atendeu a nossa ligação nem respondeu às mensagens deixadas, pelo que não foi possível obter o contraditório.

Leave a Reply