Administração Municipal do Cuango acusada de vender cemitérios aos empresários estrangeiros

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Os habitantes do município do Cuango, na província da Lunda-Norte, manifestam-se “indignados” com a venda de dois cemitérios, um no município sede e outro no sector de Cafunfo, pelos supostos funcionários da fiscalização local a empresários do oeste africano, o que para os populares, constitui “violação à cultura angolana e desrespeito aos ancestrais”.

Jordan Muacabinza | Cafunfo

As vendas dos cemitérios arredores da Vila de Cafunfo e no município sede do Cuango não foram feitas de modo transparente, segundo a população local, que ao mesmo tempo apela por uma investigação “urgente” da Procuradoria-Geral da República (PGR).

Para os populares, não se percebe a “vandalização e venda dos cemitérios”, quando “na verdade existem no Cuango vários espaços que podiam ser vendidos aos empresários locais”.

“Não há razões para demolir cemitérios de Cassexi no Cuango e de Cafunfo, uma vez o município de Cuango tem áreas muito vastas para que sejam erguidas lojas, cantinas ou outras infraestruturas de grande impacto e não optar pela demolição de símbolos históricos do município”, disse um dos anciãos.

A população lamenta que, as vendas destes cemitérios foram feitas “sem o aviso prévio ou consentimento dos moradores, que têm nestes locais enterrados os seus entes queridos”. “Os nossos familiares foram enterrados aqui e as campas foram destruídas pelos empresários estrangeiros, é muito triste”, afirmou outro munícipe.

Para o cidadão Manuel Sumbula, “Angola é o único país que comercializa cemitérios, visto que”, segundo disse, “em outros países, os cemitérios simbolizam marcos históricos, descrevem também historias de que esses restos mortais, ontem foram almas viventes, o que devem constituir em monumentos históricos e nunca podem ser demolidos por razões económicas”, disse.

Fontes da Administração Municipal do Cuango avançam que, muitos dos funcionários “não estão de acordo com a venda dos cemitérios do bairro Cassexi, no Cuango”, referiu para quem “condenamos este comportamento, pois, constitui um crime de profanação de acordo com o ordenamento jurídico angolano”, frisou.

Os familiares de defuntos que jazem naqueles “campos santos” do Cuango e Cafumfo, que preferiram o anonimato “discordam da vandalização dos espaços e condenam o comportamento dos responsáveis da administração”.

Pensa que, qualquer empresário que pretendesse construir estabelecimentos comerciais nos locais em causa, de acordo com os familiares dos defuntos, “primeiro deviam construir novos cemitérios, bem como tinham que feita a inumação e exumação dos restos mortais de todos que lá descansam”.

Entre os descontentes consta Costa Muacabalo, político do Partido de Renovação Social (PRS), que disse que se “trata de um erro grave a demolição dos cemitérios e a sua comercialização imediata aos empresários estrangeiros”.
“Não tenho nenhuma explicação por parte dos responsáveis desta secção, mas é muito estranho, que alguns estrangeiros, venham extorquir o que é do povo, enriquecendo-se ilicitamente e ainda assim com a conivência das autoridades, destruindo o nosso memorial histórico”, disse.

Alberto Cassule, da UNITA, disse que tomou o conhecimento através da administração municipal, mas para ele, “não se pode demolir qualquer cemitério, sem que antes se faça exumação ou até mesmo se localize outra área para, que se transfiram os restos mortais, pelo que repudiamos a destruição dos símbolos históricos”, frisou.

Em Abril de 2018, a população do Cuango, havia denunciado um “esquema” de venda destes dois cemitérios do Cuango e Cafunfo, onde a juventude na altura tinham acusado directamente os responsáveis afectos à área dos Serviços da Fiscalização da Administração Municipal, alegando que os mesmos “estavam em zonas impróprias”.

A “revolta” da população provocou a reacção de responsáveis da administração, tendo um dos gestores “negando que se tratou de uma informação falsa”, mas uma fonte da Administração do Cuango confidenciou a este portal que os “espaços antes de serem vendidos, primeiro tivemos que conversar com os familiares, que têm lá os seus entes queridos e nos autorizaram”, disse a fonte que preferiu não ser identificado

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