Activista Mensageiro Andrade denuncia condições desumanas nas cadeias da Huíla
O activista Mensageiro Andrade detido na cidade do Lubango, província da Huíla, na véspera da manifestação do dia 11 de Novembro, denunciou na sua página do facebook as “condições desumanas” nas cadeias durante o período em que ficou numa das celas.
Leia abaixo o texto do activista Mensageiro Andrade:
No Domingo passado fui colocado numa cela de mais ou menos 5 ou 6 metros, com 48 pessoas, idades compreendidas entre 16 a 66 anos, quer dizer, adolescentes e velhos todos numa única sela de mais ou menos 5 ou 6 metros.
Quando entrei nesta cela fiquei completamente burro e ainda mais revoltado, umas horas depois abriram de novo a cela, colocaram mais pessoas, eu em voz alta gritei dizendo: Parem de colocar pessoas aqui, aqui já não há espaço, vocês estão a prender pessoas por ajuntamentos, venham aqui ver como as coisas estão, os agentes da policia responderam-me: Cala a boca, quem te mandou cometer? Você fala muito, então eu fiquei aí a reclamar com eles, os outros que também estavam detidos olharam para mim com uma certa admiração, eu conversei com todos eles e expliquei-lhes a razão da minha detenção, fiz lembrar que independentemente daquilo que eles fizeram, eles aqui também têm os seus direitos e que era preciso exigir isso das autoridades, eles ficaram durante muito tempo a me ouvir, falamos muito de revolução, de religião e do comportamento de muitas figuras públicas, faziam muitas perguntas e eu pacientemente as respondias, ainda disseram-me que há dias que nesta cela de quase 5 ou 6 metros chega a ter quase 70 pessoas, que aquilo era pouco.
As pessoas que entravam na cela iam directamente para o quarto de banho ou latrina, de mais ou menos um metro e tal, e não era ao quadrado, é o único sítio onde havia possibilidade de conseguir um mínimo espaço para ficar de pé , nesse quarto de banho ou nessa latrina como quiserem entender de mais ou menos um metro e tal, estavam lá mais ou menos 20 pessoas ou mais, sem nenhum espaço para esticar pelo menos os pés, alguns nem sequer conseguiam um espaço para ficarem de pé, na procura de um espaço, pelo menos para ficarem de pé eram espancados por outros detidos, vão de um lado eram batidos, vão doutro lado eram batidos, aquilo era triste, criei em mim um sentimento de revolta.
Ao lado do quarto de banho ou latrina de mais ou menos um metro e tal onde estavam mais ou menos 20 ou se calhar até vinte e tal pessoas, colocaram dois baldes onde as pessoas cagavam, aqueles baldes cheios de fezes estavam ao lado das pessoas, como vêem não poderiam estar distantes porque já não havia mais espaços, é mesmo lá ao lado dos baldes cheios de fezes onde as pessoas comiam e faziam um enorme esforço para dormirem, quando os baldes estavam cheios de fezes e as pessoas estavam com necessidades cagavam mesmo quase no chão na presença de todos que comiam e tentavam dormir, não havia outra solução.
Tu vias naquela cela, adolescentes de 16 anos a faltar com respeito velhos de 50 e 66 anos de idade, muitos a rirem-se desses mais velhos, putos a zombarem deles, aquilo era triste, revoltante e vergonhoso, eu por um pouco chorei de tanta raiva, a dado momento não me controlei, comecei de novo a reclamar ao olhar para aquilo tudo. De noite quando alguns faziam esforços de descansar, outros estavam com vontade de cagar, mas para cagares você precisa alcançar aqueles dois baldes cheios de fezes, para chegares lá era quase impossível, corrias riscos de espancamentos, precisas passar por mais de 40 pessoas que tinham tanta vontade de bater os outros e que não queriam que ninguém mais passasse la, seja la qual for a tua necessidade, tinhas que aguentar, então escolhias, porque la não havia nenhum espaço para pelo menos colocar os pés para pisares, para passares tinhas mesmo que pisar nos outros, mas era necessário porque você precisa cagar, tu não podes controlar isso, alguns com mais medo ainda conseguiam pensar se iam ou não durante 4 minutos.
De manha o chefe da cela escolhia alguns para deitarem os baldes de fezes e limparem as fezes que estavam no chão, outros por não aguentarem se recusavam, mas eram espancados ate aceitarem.
corríamos naquela cela todo tipo de risco, se uma pessoa tivesse infectada todos estariam, a policia tem a responsabilidade de ajudar a combater a pandemia como muitas vezes se gaba, mas e a mesma policia que coloca 70 pessoas numa cela de mais ou menos 5 ou 6 metros. O governo de Angola tem que entender que eles foram detidos mas continuam ser humanos, não merecem estar naquelas condições que retira qualquer dignidade como humanos, aquilo nem para animais serve.
Faço um desafio aos jornalistas de Angola que vivem nesta Província para fazerem uma investigação, porque isso e uma autentica violação dos Direitos Humanos, caros jornalistas da Província da Huila, esta lançado o desafio, porque lá também pode estar o seu familiar, sejam mais corajosos, temos uma oportunidade de ouro para fazer mudança, os nossos irmãos que estão la e que vão para la precisam da nossa ajuda, estamos num momento certo, peço a intervenção de todos Angolanos, lideres religiosos não se calem perante estas injustiças, não se tornem cúmplices do diabo, Deus vai vos cobrar se permanecerem calados, façam alguma coisa.
Não liguem muito os sinais de pontuação, estou a escrever esse texto com muito esforço, os meios que estou a utilizar não estão bons.