A Postura Política Insensível e Cobarde dos Líderes do MPLA

Por Shilda Cardoso

A política do MPLA é tão desconcertante quanto se pode imaginar. Muitas vezes, definimos o partido no poder como consistindo numa liderança unânime e afirmativa devido aos poderes excessivos concedidos aos seus líderes e ao subsequente apoio dos restantes membros. Historicamente, o regime do MPLA moldou-se como uma organização marxista-leninista de elite. O leme desta estrutura é conhecido como o gabinete político, com aproximadamente uma centena de membros no seu núcleo. No caso de Angola, estes são sem dúvida os decisores da organização, estendendo os seus poderes a instituições públicas e independentes. No entanto, ao longo dos anos, tem sido razoável definir a liderança do MPLA como uma teia de aranha de políticos covardes. Ao contrário da percepção do público, o presidente do MPLA não é a figura todo-poderosa que dá as ordens. Na realidade, o gabinete político do MPLA é responsável por muitas posturas políticas impostas ao povo angolano.

Paradoxalmente, o regime do MPLA apresenta o seu líder como o derradeiro decisor; contudo, nos bastidores, os seus líderes de directório têm tanta voz como o aparente líder supremo. De facto, João de Almeida Martins, o secretário do Bureau para os Assuntos Políticos e Eleitorais do MPLA, salientou o suficiente durante uma recente conferência de imprensa que o líder do partido não toma qualquer decisão sem o consentimento do Bureau para os Assuntos Políticos. Este tem sido um procedimento habitual no regime do MPLA desde o mandato de Agostinho Neto nas décadas de 60 e 70. Os trinta e oito anos no poder de José Eduardo dos Santos não foram diferentes. Sob ele, a agenda do regime do MPLA utilizou a sua figura como exemplo de uma organização coesa através de um líder; entretanto, muitas decisões foram condicionadas pelo gabinete político do MPLA. Estes membros raramente são ouvidos ou vistos pelo público. Funcionam frequentemente sob o radar, mas são tão influentes como o seu presidente.

Hoje, João Lourenço estrelou no mesmo teatro. É apresentado publicamente como o elenco principal, mas nos bastidores muitos outros são responsáveis por decisões políticas cruciais do regime. O que é intrigante, no entanto, é a falta de coragem destes membros para exprimirem as suas próprias opiniões ao público. Sempre que fazem uma aparição pública, o que é raro, falam frequentemente de uma unidade colectiva. Mesmo que um membro seja responsável por uma política, ele irá declarar a política como um esforço colectivo. Nos dias de hoje, este comportamento inclina-se mais para a cobardia do que para a disciplina partidária.

Além disso, o seu silêncio sobre as numerosas questões de fraude eleitoral durante este período eleitoral indica a sua insensibilidade política. Recusam-se a defender um ambiente justo, ético e constitucional. João Lourenço não tem certamente deixado de lhes dar motivos para agir, uma vez que demonstra repetidamente a sua falta de preparação para respeitar o Estado de direito. De facto, ele parece ser a voz defensiva das violações eleitorais perpetradas pelo governo, pelo Tribunal Constitucional e pela Comissão Nacional de Eleições. À luz de todos os seus erros, é inacreditável que nem um, nada, rien, ninguno, никто, 没有任何, membro nulo do gabinete do MPLA tem a consciência justa de desincentivar as suas acções. O povo angolano questiona-se; num universo de aproximadamente cem membros no gabinete político do MPLA, nem um se atreve a defender a democracia. Que tipo de políticos é que o País tem? Claro, compreendemos toda a algaraviada disciplina partidária e os motivos de cada membro para permanecer em silêncio em prol de benefícios sociais e económicos. No entanto, é difícil acreditar que nem uma única alma no gabinete do MPLA tenha a coragem e consciência política exemplar para discordar da postura política pouco ética assumida por João Lourenço.

Sabemos que muitos não acedem à direcção de fraude eleitoral do partido; no entanto, por cobardia, permanecem em silêncio. No entanto, o País não pode continuar a ser liderado por líderes cobardes. Precisamos de um país de homens e mulheres corajosos, capazes de defender a constituição e de servir legitimamente a nação. Precisamos de um país com políticos bem preparados, na medida em que, se necessário, qualquer um deles seja suficientemente corajoso para assumir a presidência. Porque não? Quem ditou que um país só tem um líder potencial? É um absurdo. Na verdade, precisamos de líderes mais ambiciosos com a coragem de concorrer à presidência. O MPLA precisa de virar a página. Já não vivemos na era socialista dos anos 70 com a mentalidade de líder supremo. Hoje precisamos de tantas opções de liderança como o País pode oferecer. É adequado para a democracia e o desenvolvimento. Assim, aconselhamos os membros do gabinete do MPLA a reavaliar as suas posições e a ter a coragem de repreender as práticas inconstitucionais lideradas pelo seu presidente. Ao contrário da crença pública, eles têm individualmente um enorme poder para fazer mudanças significativas. Pelo menos a política e o povo angolano merecem isto da sua parte.

The Insensible and Cowardly Political Stance of the MPLA Leaders (constantcontact.com)