A CONSTRUÇÃO DA REALIDADE SOCIAL VERSUS CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO SOCIO-ECONÓMICO
Nenhum país é feito só de políticos, ou daqueles que têm a tarefa de o governar. A pirâmide deve ser invertida para que se faça de facto “jus” ao “Poder do Povo”. Todos, de sã mentalidade, devemos ser agentes políticos, económicos e sociais na construção de uma nova realidade social.
Peter L. Berger e Thomas Luckmann, defendiam a Construção Social da Realidade. Porém nós, defendemos a Construção da Realidade Social, pois é disso mesmo de que Angola necessita para alcançar a garantia efectiva do crescimento e desenvolvimento socio-económicos.
É nosso entendimento que, a construção deve ser concebida, com base numa estrutura já existente (a sociedade), e depois moldam-se as diferentes realidades que nela coexistem, para daí fazermos pouco a pouco e por sedimentação, uma nova realidade social. Ou seja, hoje por hoje, já não se constroem sociedades (pois estas são seculares e seria uma perpetuidade realizar tal proeza), mas constroem-se sim, outras realidades dentro das sociedades já existentes, que compreendem as partes instrumentais da estrutura social.
Todas as políticas macro-económicas que almejamos implementar, a pretensão de crescimento e desenvolvimento que auguramos atingir, e os esforços feitos, serão efémeros se não se pensar na necessidade de construir o homem primeiro. A exequibilidade das políticas públicas e macro-económicas fazem-se com o cidadão intelectualmente consciente, que ultrapassou as barreiras académicas e da ignorância.
A China que é caracterizada por uma sociedade de realidades sociais complexas, sofreu drásticas mudanças. Deng Xiao Ping, o reformador da economia chinesa, idealizou uma nova China que abraçasse a economia de mercado, porém a realização destas estratégias contou com a participação de todo povo, em que cada cidadão era por si só, um agente de crescimento e desenvolvimento socio-económico. Deng Xiao Ping, apelou que o seu povo fosse criar riquezas, criar empresas, pelo que nos dias de hoje, os chineses espalhados pelo mundo inteiro, e estes são os principais responsáveis do crescimento do PIB chinês, por conta das variadíssimas industriais criadas pelos empresários locais e das remessas económicas e financeiras que os chineses exportam do estrangeiro para dentro, criando assim um superávit na balança comercial.
O Presidente João Lourenço, desejando seguir esta mesma linha da reforma económica ao estilo de Deng Xiao Ping, não poupa esforços, em seus périplos pelo ocidente, de atrair e captar o investimento estrangeiro. A intenção é boa, mas o discernimento peca, e só terá sucesso se incluir a componente inteligência económica na sua estratégia Geopolítica, e vão será todo esforço se o povo não for chamado à sua responsabilidade. Pelo que o povo (intelectuais-empresários , académicos, e a sociedade civil em geral) deverá compreender que se o Presidente João Lourenço falhar nessa luta, o povo tem culpa por omissão.
A necessidade do crescimento económico para Angola, é imperativamente intrínseca à necessidade de uma nova construção da realidade social, quer dizer que, devemos começar por formar o homem e moldar a sua consciência intelectual. Essa mudança da realidade social que se pretende alcançar, não é feita com a lógica dos manuais académicos, mas com os intelectuais e as universidades que tragam valências científicas da vida quotidiana e real. Ou seja, em outros termos, não é possível haver crescimento ou desenvolvimento económico sustentável, sem a participação do cidadão consciente e sem uma transformação Intelectual da realidade social.
O crescimento e desenvolvimento económicos, não devem ser vistos somente no âmbito da implementação das políticas macro-económicas, mas sobretudo na sua componente científica e social (o homem como o principal factor da transformação da realidade).
A Realidade Social Objectiva e a Realidade Social Subjetiva, são os dois tipos que encontramos dentro de uma sociedade. Mas a realidade social objetiva, é aquela que assume a maior importância, e onde se deve focalizar as sinergias para a sua legitimação e sedimentação através da organização social. E é através dela que se deve erguer os degraus para a construção de uma realidade distinta, mas não na subjectividade da sociedade como um todo.
É pois deste modo que, iremos forjar gradualmente uma nova identidade em nós, que se vai traduzir na maneira como vimos, sentimos, vivemos e analisamos a sociedade.
Karl Marx, numa das suas célebres citações disse:
“Não é a consciência do ser humano que determina a sua existência, mas são as condições socio-materiais da existência que determinam a consciência!”
Agora digo eu:
“Se nós não conseguirmos transformar a consciência do ser humano, através da construção da realidade social, não haverá garantia da existência de condições socio-materiais”.
12 de Julho, França