Mesmo qualificado, jovem angolano com paralisia sofre discriminação na busca de emprego

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Por VOA

Valentino Pena, de 28 anos, nasceu saudável, mas antes de completar um ano de idade contraiu sarampo e ficou muito doente. Depois que se recuperou da doença, ficou com a perna esquerda paralisada.

Sua mãe foi a vários hospitais à procura de tratamento, mas sempre ouviu a mesma resposta de que não havia nada que poderia ser feito.

Ela não desistiu e então foi em busca da medicina alternativa. Começou a fazer massagens e usar medicamentos naturais para ver se conseguia reverter a paralisia da perna, mas infelizmente não havia cura.

Valentino cresceu usando muletas e foram elas que o apoiaram para que conseguisse concluir os estudos. Determinado e motivado, terminou o ensino médio e capacitou-se para o mercado de trabalho. Fez cursos básicos profissionais, como empreendedorismo, hardware e software, secretariado e informática. Valentino também é fluente em inglês.

“Eu posso trabalhar em um escritório ou em uma secretaria. Entendo bem desses serviços de informática: digitação de documentos e cópia”.

E acrescentou: “Aqui em Angola, com um computador, uma impressora, uma encadernadora, uma plastificadora e uma câmera fotográfica dá muito bem para criar o seu próprio emprego”.

Valentino costumava consertar aparelhos de som e televisão por conta própria, mas agora está desempregado. Ele e a mãe, que tem reumatismo e não pode trabalhar mais como vendedora, passam por muitas dificuldades para conseguirem se alimentar.

Para o jovem, o facto de ele não estar inserido no mercado de trabalho é uma consequência da discriminação.

“Cá em Luanda a maioria das empresas, tanto públicas ou privadas, se levam pela discriminação. Quando vêem que é um cidadão com deficiência solicitando uma vaga de emprego então automaticamente eles discriminam. Eles vêem que é alguém que vai dar muito trabalho. Então eles preferem ignorar”.

Segundo Valentino, outro motivo que impede que os deficientes físicos sejam aceitos e incorporados à sociedade e ao mercado de trabalho é a falta de uma boa política do Governo.

“Porque no centro da cidade de Luanda eu sempre me deparo com pessoas com deficiência como eu e alguns que utilizam a cadeira de rodas a pedirem esmolas. É um sítio onde todos os dirigentes do governo angolano frequentam diariamente. Eles vêem os deficientes aí atirados no meio do nada pedindo esmolas, mas não se preocupam em criar uma política de enquadramento no mundo do emprego ou pelo menos dar assistência social”.

Valentino diz que no que se refere às muletas e cadeiras de rodas, há algumas instituições públicas e privadas “que dizem que estão aí para ajudar as pessoas com deficiência, mas quando a pessoa chega lá socilitando muleta ou cadeira de roda eles mostram um comportamento como se fossem a fazer um favor, quer dizer, eles podem até dar, mas primeiro você tem que passar por uma humilhação”. Ele acrescenta que o governo angolano faz o mesmo.

“Se o Governo tivesse uma boa política, uma política séria de ajudar as pessoas com deficiência em Angola, nós não teríamos essa dificuldade toda que enfrentamos no nosso dia a dia.

“Estamos mesmo atirados no meio do nada”.

O jovem terminou a entrevista falando sobre o seu sonho.

“O meu sonho na vida é ser alguém que tenha pelo menos o básico para viver. Ser um funcionário de uma instituição onde pode sair alguma coisa para aguentar a vida. Ter a minha casa própria, ter um bocado para que eu possa ajudar minha mãe, que nesse momento não pode fazer nada”.

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