Actvista Osvaldo Kaholo denuncia “terrorismo de Estado” e prorrogação da sua prisão preventiva
O activista e líder da Resistência Cívica, Osvaldo Kaholo, denunciou a partir do Estabelecimento Prisional de Calomboloca a prorrogação da sua medida de coação, que o manterá em prisão preventiva até março de 2026. A informação consta de uma carta tornada pública neste domingo, 13 de outubro, na qual o militante acusa o regime de promover o que classifica de “terrorismo de Estado”.
De acordo com Osvaldo Kaholo, citado pelo Club-K, foi informado por um dos seus advogados sobre a decisão judicial que prolonga o seu tempo de detenção. “Recebi a comunicação de que a minha medida de coação, prisão preventiva, foi prorrogada. Conhecendo o terrorismo de Estado implementado desde a violação dos Acordos de Alvor, isso não constitui surpresa”, escreveu o ativista.
Na missiva, o líder da Resistência critica o que chama de “estratégia de tortura e desgaste” e afirma que a prorrogação da sua prisão visa mantê-lo encarcerado até ao início do próximo ano judicial, em março de 2026. “Mais dois meses, que vai até dezembro.
As férias judiciais começam agora e vão até março. É para me manterem nas masmorras até lá, seguido de um julgamento de palhaçada”, denunciou.
O activista, que já havia sido detido no âmbito do processo dos 15+2 em 2015, traça paralelos entre o atual regime e o colonialismo português. “Aqueles que ontem foram presos pelo colono português, acusados de terroristas, são os mesmos que hoje acusam e julgam-nos por terrorismo, esquecendo o terrorismo de Estado que praticam”, frisou.
Kaholo acusa ainda os serviços secretos e forças de segurança de operarem de forma extrajudicial, promovendo desaparecimentos, torturas e perseguições políticas. “O terrorismo de Estado é patente. Os cidadãos desaparecem, são torturados, presos, julgados e executados, enquanto o Estado se mantém em silêncio”, escreveu.
O ativista critica o que considera uma relação de submissão e medo na sociedade angolana, onde, segundo ele, direitos como o emprego e o salário são “entregues como suborno”. “Quem tem emprego é impedido de ser consciente, de reivindicar ou de dizer a verdade, tudo para proteger o pão das crianças”, afirmou.
Na carta, Osvaldo Kaholo também faz reflexões de natureza espiritual e política, recorrendo a passagens bíblicas para fundamentar o seu discurso. “Os magistrados têm poder para mandar prender qualquer um, mas em Miqueias diz-se que os juízes julgam por suborno. Será que por dizer a verdade me tornei inimigo?”, questiona, citando a epístola aos Gálatas.
Concluindo a sua mensagem, o ativista apelou à coragem da juventude e dos intelectuais, que, segundo ele, “devem deixar o medo e cultivar a determinação”. “A árvore da liberdade é regada com coragem, determinação, sacrifício e o sangue dos patriotas”, escreveu.
Osvaldo Kaholo foi preso em Angola no dia 19 de julho de 2025, após uma transmissão em direto nas redes sociais, na qual foi acusado de incitação à violência, apologia ao crime e rebelião. Desde então, encontra-se detido em Calomboloca, alegando ser vítima de perseguição política por causa das suas posições críticas em relação ao governo.
CK

