MEA acusa Ministério do Ensino Superior de usar sector da saúde para fazer negócio no ensino
O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) acusou na quarta-feira, 17, o Ministério do Ensino Superior, Ciência e Tecnologia de pretender usar a área da saúde para fazer negócio, prejudicando deste modo os angolanos, porque nos próximos dois anos só haverá cursos disponíveis nas ciências da saúde nas universidades privadas do país.
Em conferência de imprensa realizada na Casa da Juventude, no município de Viana, em Luanda, o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), Francisco Teixeira criticou a proibição de ingresso de novos estudantes de medicina no período de dois anos, nas instituições públicas do ensino superior.
“Tomamos conhecimento da anulação de novas matrículas para o Ensino Superior, na maior parte das faculdades de medicina e Institutos Superiores de Saúde”, disse Francisco Teixeira, que lembrou que, “uma medida semelhante à que se viveu em 1993 quando foram encerradas as faculdades de medicina devido à falta de condições, e em seguida o governo reabriu quatro mais tarde, com as mesmas condições em que foram encerradas”.
Segundo o líder do MEA, “o poder político não tinha interesse em criar condições e não criou até aos dias hoje”, afirmou para quem “a antecessora Ministra do Ensino Superior, Ana Bragança, quando foi decana da Universidade Katyavala Bwila, na altura tinha apenas duas salas de aula e foram formados médicos naquelas condições, e hoje estão a jogar um grande papel no sector da saúde em Angola”.
“O que achamos é que, as Faculdades não devem fechar, nós temos cerca de 34 milhões de habitantes, e temos um médico para cada 10 mil habitantes, e se for para cumprir com a regra da OMS, estamos muito distantes de cumprir, pelo que o encerramento das Faculdades de Medicina e Ciência da Saúde, irão influenciar absolutamente de forma negativa para que tenhamos uma qualidade de assistência médica”, reforçou Teixeira.
Para o presidente do Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA), o Presidente da República e Titular do Poder Executivo, “pode sim melhorar a qualidade das Faculdades de Medicina e Ciências da Saúde, pois o dinheiro que se gasta na construção de grandes hospitais em que não tem quadros para trabalhar pode muito bem apetrechar todas as faculdades, pagar professores e melhorar as condições de ensino”, por isso, Francisco Teixeira entende que “não se justifica o encerramento”.
O responsável da organização que defende os interesses da classe estudantil ressaltou que a Universidade Jean Piaget (UNIPIAGET) “vai continuar se os professores que lá lecionam que na sua maioria são professores da Faculdade de Medicina e Ciências da Saúde, da Universidade Agostinho Neto (UAN)”.
“O ciclo básico da Universidade Jean Piaget são todos docentes da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto, o Instituto Superior de Guerra das Forças Armadas vai continuar a formar em que condições, se são absolutamente as mesmas em relação a cinco seis anos atrás? Quais são as condições que a UPRA tem para formar, se nem se quer tem um Hospital ou uma clínica”, questionou o líder do MEA.
Além disso, o Movimento dos Estudantes Angolanos prevê que o próximo ano letivo será difícil para a classe estudantil tendo também em conta o aumento das propinas nas universidades privadas.
Nesta conferência de imprensa, o MEA procedeu igualmente ao balanço do recém-terminado ano lectivo 2023/2024, cujos resultados, segundo Francisco Teixeira “são negativos”, pois, o país registou um número muito elevado de pessoas que não conseguiram estudar por insuficiência de vagas e por falta de escolas em algumas zonas.
“Também, verificamos um número significativo de estudantes que desistiram pela distância de casa para a escola, e por causa da subida da do preço dos transportes públicos que condicionou muitos estudantes pelo facto de não terem o poder financeiro para pagar 150 kwanzas no transporte público (autocarro)”, disse.
O Movimento dos Estudantes sublinhou ter constatado igualmente a “carência” de professores que culminou com o não cumprimento da classificação em algumas disciplinas, a falta de laboratórios, bibliotecas e merenda escolar são factor importantes, que condicionam o bom aproveitamento do estudante e o interesse nas escolas.