Só eleições não bastam, tal como o sistema se apresenta – Marcolino Moco

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No meu texto de ontem, bem entendido por muita gente, há aqueles que perceberam que disse serem as eleições dispensáveis. Não. O que disse é que só eleições não bastam, tal como o sistema se apresenta.

Doutro modo, o que vai acontecer é que nem daqui a 50 anos, como aliás o apregoam os donos deste regime (já estão aí a discutir os planos para esse tempo), o sistema vai mudar. E daqui a 50 anos, não só eu mas muitos jovens que discutem isso comigo já cá não estaremos.

Mas serão os nossos descendentes que encontrarão isto mais escaqueirado do que está hoje: gente quase da classe média com dificuldade em ter as três refeições habituais do dia. Enquanto outros, minoria das minorias, que não tardará muitos a passarem pelas mesmas dificuldades, se ufanam da sua susposta esperteza, como disse ontem.

O pior é que a nossa tendência para nos absorver com as consequências e não com as causas, ou o não nos preocuparmos com nada, especialmente se vamos tendo as tais três refeições ou até outros e avultados luxos, retira-nos a visão para localizar onde está o problema, para facilitarmos as coisas.

Devo revelar-vos, e acredite quem quiser, que muito de nós, na nossa juventude, aderimos ao chamado “socialismo científico”, como se nos estivéssemos a juntar a uma doutrina religiosa, que não admitia o arraial de desonestidades a que assistimos hoje.

Só com o fim do estado de partido-único de ideologia marxista leninista e com a aderência irracional ao actual “capitalismo selvagem” é que começamos a ouvir, entre nós, aqueles que afirmavam que agora o regime poderia passar por um sistema de “quem vence a quem”.

E, com o firme desacordo de outros de nós, passamos a ouvir de elementos com responsabilidade a referir que o poder não se entrega. Conquista-se. Como quem diz, “custe o que custar”.

É alí onde está a causa dos principais males que padecemos. O poder fica só com o partido no poder que nunca o largará, por mais que preste mau serviço. Nisso é belo ouvir, especialmente, os Drs Kapapinha e Tito Kambanje.

E dentro do partido no poder todo os poderes (executivo, legislativo, judicial – bom, este deve ser completamente desmoralizado, se não totalmente destruído – comunicação social, poder local autárquico e tradicional, o dinheiro) tudo passa para as mãos de um só titular de todos os poderes.

Mas sabemos que, impossivel, não poderá possuir mãos tão largas para largar, permanente, um pouco de tudo para todos. Dentro do partido no poder os mais sortudos ou ocasionalmente escolhidos vão ficando com algumas grandes ou pequenas migalhas até um dia.

Aqui fora, elemntos de partidos da oposição e da sociedade civil, igualmente armados de espertos (irão chorar mais tarde) também se entusiamam com algumas oportunidades. O dinheiro circula por poucas mãos. A economia definha. Um dia, até eles, os da pequena e alegre cúpula, serão vítimas dessa sua obsessão de vaidade exclusivista. Alguém ainda quer pedir-me exemplos do que estou agora a dizer?

Por isso é que do alto da minha idade e experiência, vos peço a todos, especialmente a vós ó jovens de todos os quadrantes sociais e partidos políticos, donos do futuro, a pararem, pela via pacífica, este sistema que se vai auto-reproduzindo. No outro dia, tive de repetir “via pacífica”, cinco vezes.

Isso porque o Dr. David Mendes um dia insinuou que eu estava a sublevar a juventude e depois iria fugir para Portugal, quando as coisas estiverem quentes. Não. Por minha vontade isso nunca irá acontecer.

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