1ª PARTE: MEDITAÇÕES FUTEBOLÍSTICAS DO MUNDIAL 2018
A Argentina qualificou-se ontem, dia 26 para os oitavos de final do Mundial 2018 de futebol, ao bater a Nigéria por 2-1 e beneficiar do desaire por igual resultado da Islândia face à já apurada Croácia, no fecho no Grupo D. Atenção do Mundo está virada à Rússia. Angola não foge a regra e é realmente apenas uma prova para o povo que uma África estável e segura parece ser de poucos interesses para alguns em Angola e não só, que apoiaram a equipe da Argentina que qualificou-se ontem para os oitavos de final do Mundial. Como diz o Jornalista Reginaldo Silva, esta é a África real. O resto é mesmo o resto… (30 mil pessoas já morreram desde 2014 nesta travessia forçada pelo deserto/devolvidos à procedência/back to Níger). Voltando ao futebol do Mundial na Rússia com chuva ou sem chuva estamos a viver nos momentos de lágrimas por amar a pátria, onde algumas informações de mortes, continuam a chegar, no caso do Jovem Idrissa assim se chamava do Guine Bissau teve uma paragem respiratória durante o jogo da selecção portuguesa contra os iranianos para a última jornada do Grupo B do campeonato de Mundo. O jovem taxista parou o carro mais cedo para ir ao salão de jogos para torcer por Portugal e apoiar o seu ídolo Cristiano Ronaldo. Aos 20′ da primeira parte, Idrissa carregado de emoção teve problemas respiratórios que não resistiu, tendo, infelizmente, acabado por falecer. Colegas, vizinhos e irmãos dizem que Itchi era um fã incondicional de futebol e do Ronaldo. O funeral foi nesta terça-feira em Bissau.
O vídeo árbitro na verdade, foi decisivo nos jogos de segunda-feira de Portugal e Espanha, um tema que tem dado que falar. A selecção nacional queixa-se de um penálti duvidoso que o árbitro assinalou com recurso às imagens. Já Espanha viu confirmado um golo ao cair do pano quando parecia que um jogador estava fora de jogo. Já no jogo de ontem, o avançado Lionel Messi foi eleito o Homem do Jogo entre Nigéria e Argentina, que os argentinos venceram por 2-1. O astro da albiceleste desbloqueou o marcador, ao apontar o primeiro golo em nome próprio neste Mundial 2018. Após dois jogos desinspirados frente a Islândia (1-1) e Croácia (0-3), o despontar de “La Pulga” renovou as energias argentinas. Mudou o chip, mudou de atitude e isso reflectiu-se no resultado final. E este não foi, nem de perto, o melhor Messi. Esse pode muito bem levar os argentinos a resgatar uma taça que lhes foge desde 1986. Na altura, também havia uma estrela guia dos argentinos. Um tal de Diego Maradona. Afirma a SIC Notícias.
Amigos e amigas!
No futebol, tirando os guarda-redes, nenhum jogador pode tocar a bola com a mão. Mas, no mundo público nacional, os poderosos podem meter a mão nos dinheiros públicos.
- Um dos mistérios da vida colectiva é justamente o sentido da vida colectiva. Movidos a individualismo, ficamos estupefactos diante do significado do colectivo que, a rigor, não deveria ter capacidade de criar as circunstâncias não previstas que nascem do previsto e do esperado. Do café mal feito ao golo do adversário; da vitória mundial no futebol da chamada sub-raça, forçada a redefinir-se; da investigação policial que — eis o inesperado do inesperado — leva à prisão de quem se pensava acima da lei.
- O colectivo não é uma soma de indivíduos. Ele tem sua realidade e os seus códigos — a língua, a geografia e a história. Suas constituições e palcos nos quais entramos sem sermos chamados. Tal conjunto se faz por determinações colectivas. Concordo com Lévi-Strauss quando ele freudianamente põe em dúvida a consciência individual. E com Louis Dumont quando ele denuncia o primado do individuo (e da parte) como um valor instituído pela modernidade.
- O esporte é uma instituição social delimitada. Ao contrário da rotina que não tem fim, ele tem tempo, espaço, gestos, objectos, vestimentas e regras próprias. No futebol da Copa que me embriaga, tirando os guarda-redes, nenhum jogador pode tocar a bola com a mão. Mas no mundo público nacional, dentro do qual o futebol acontece, os poderosos podem meter a mão nos dinheiros públicos e é somente neste século vinte e um que se cogita em puni-los com as reacções que todos conhecemos. De um lado, há os que querem uma igualdade de todos como no futebol; do outro, há os que querem mudar as regras ainda que isso custe o fim do jogo.
- Há um elo óbvio entre esporte e democracia.
- No futebol há um dinamismo contrário às rotinas. Mas as regras ancoram tudo. Numa sociedade constituída pelo “jeitinho” para certas situações e pessoas, conforme revela as pessoas, começar a ter uma clareza futebolística. Sem limites não há chance de viver democraticamente. A distribuição equitativa de justiça e bem-estar exige talento e, acima de tudo, respeito às leis.
- No esporte não cabe populismo, embora os populistas, fascistas e seus simpatizantes possam tirar proveito dos seus resultados. O humano não é puro.
- Imagine um jogo de futebol no qual os jogadores ricos, famosos e de talento pudessem seguir seus desejos.
- A famosa “transparência” é simplesmente a coerência entre pessoa, papel e norma colectiva. Quando isso não ocorre temos malandragem.
- Tenho reiterado que a experiência inconsciente da igualdade é básica na popularidade desse esporte no caso do Brasil e no mundo. A integração pela igualdade permitiu juntar pretos e brancos, ricos e pobres, analfabetos e letrados. Foi o futebol que permitiu redefinir a auto-estima.
De acordo o Roberto Da Matta é antropólogo afirma que, condenar um goleiro que “engole frangos” — um “frangueiro” — como se dizia antigamente, é uma coisa. Outra coisa é saber que o “frango” foi proposital num jogo que envolve o país e demanda honestidade e altruísmo — serviço para a colectividade e não para si próprio. O esporte, como o teatro, o romance (e os mitos) não mente porque eles são ficcionais. Num filme ou romance não há fake news, porque tudo é fake. Nessa esfera da vida, há uma desigualdade de raiz entre o produtor e o espectador. Situado entre ficção e a realidade, o esporte é, para lembrar Victor Turner, um “liminoide”— um espaço entre a realidade inexorável do trabalho e o entretenimento que permite com ela lidar.
A crise brasileira tem tudo a ver com luta para aplicar no campo político essa honradez às regras que legitima e dignifica o futebol. Treinar chutes a golo é importante, mas o quilate dos brincos também é. Em toda Copa é assim: os jogadores fazem coisas nos anúncios de TV que não vemos nos jogos de verdade. Aquele chute explosivos, cambalhotas impossíveis e lances plásticos e espectaculares não acontecem em campo. Faz pensar que os jogos seriam melhores se os times fossem treinados pelos criadores de efeitos especiais das agências de propaganda, e não por mortais, por mais cheios de si. O mesmo com os jogadores: treinar troca de passes, chutes a golo e disputa de divididas é importante, mas o corte de cabelo, a grife do terno e o quilate do brinco também são.
Nos anos 70, o alemão Hans Henningsen, representante da Puma na América Latina. A Adidas já era a gigante do mercado, mas Hans conseguia com que os maiores, como Pelé, Carlos Alberto, Beckenbauer e, depois, Cruyff, Zico e Maradona usassem Puma, não Adidas. O pagamento eram uns caraminguás e quantos tênis e agasalhos eles pedissem para presentear os amigos. Hoje essas negociações movimentam bilhões. Da mesma forma, a meta dos grandes craques deixou de ser uma loura, um carrão e uma casa na Barra ou o equivalente. Agora inclui contratos com grifes de roupas, sapatos e malas, além de acessórios como correntes, relógios e os headphones com que eles desembarcam dos ônibus, nem sempre tocando alguma coisa. Tudo gera dinheiro.
Os jogadores sempre se cercaram de amigos de infância, primos distantes e outros parasitas que levam para todo o lado. Isso nunca mudará, mas hoje eles se cercam também do que chamam de “estafe”, de economistas para orientá-los sobre aplicações e advogados para negociar seus contratos até os personal hairdressers (o cabeleireiro de Neymar está na Rússia para cuidar de seus enxertos de sobrancelha e extensão de cílios). Não há nada de mal em nada disso. Desde que essa doce vida civil se converta em golos e vitórias.
Na última sexta-feira da semana passada (22), logo após a vitória suada sobre a Costa Rica, Neymar não deixa alegria para trás, publicou um desabafo nas redes sociais. “Nem todos sabem o que passei para chegar até aqui. Falar, até papagaio fala, agora fazer, poucos fazem!”, disse. “Na minha vida as coisas nunca foram fáceis. Não seria agora, né?”, escreveu.
Os comportamentos já muitos criticaram o Neymar de certo modo padrão no futebol brasileiro, inclusive nos campeonatos locais. Quando um clube ganha, a celebração costuma ser na forma de resposta a todos aqueles que desacreditaram o time. Em vez de celebrar, prefere-se perder tempo mandando o adversário calar a boca, silenciar, afinal, ninguém sabe as “dificuldades” enfrentadas na caminhada da conquista. Não há dúvidas sobre os obstáculos superados por Neymar para se transformar no jogador mais caro do mundo e mais importante do país. Questionam há sua atitude mimada em campo e fora dele, porém, não significa ignorar sua genialidade com a bola. Quem o critica não necessariamente quer seu mal ou o odeia. O mesmo tipo de situação torna-se cada vez mais comum no debate político. Não à toa, apelidou-se de “flá-flu” a guerra insana na internet. Importa menos o sucesso de um e mais provocar ou achincalhar o outro.
As bobagens escritas por Neymar depois do jogo podem muito bem caber em discursos nas eleições de Outubro. “Nem todos sabem o que passei para chegar até aqui”, dirá um governador eleito. “Falar, até papagaio fala, agora fazer, poucos fazem”, afirmará um senador ou um deputado. Na minha vida as coisas nunca foram fáceis” serão as palavras do candidato a presidência a ser escolhido nas urnas — e a depender do vencedor, não será surpresa para ninguém uma reacção ao melhor estilo. Assim vai o mundo de futebol. Nada acontece só sem sacrifícios.